Publicado em 28/06/2013 - Jornal do Commercio
Bruno Albertim
bruno.albertim@gmail.com
Sardinha importada é servida sobre torradas com molho de coentros e alhos macerados em azeite ou numa versão ligeiramente mais perfumada com outros cítricos Foto: Felipe Ribeiro / JC Imagem |
Há casas que mal surgem, nos
são logo a impressão de terem existido desde sempre. Com pouco mais de
uma semana de funcionamento, o Sardinha, num cenográfico (e lindo)
casarão de pé direito alto atravessando três pavimentos, já funciona
como cantinho precioso do Recife Antigo. Ali, a cozinha portuguesa exibe
aromas e predicativos agregando um valor mais que subliminar ao casco
velho da cidade. Fazia falta na geografia do bairro.
A cozinha, como o nome sugere, é
portuguesa. Uma cozinha lusa potencializada pela difícil equação entre
elegância e simplicidade, desejada por tantos, concretizada por muito
poucos. Uma fórmula, aliás, que é marca da proprietária Adriana Didier, a
mulher por trás da grife Beijupirá que, aqui, conta com a precisa
parceria do marido e sócio, o português Joaquim Gonçalves.
O peixinho que dá nome ao
estabelecimento tem ali sua devida reverência. Tratada como instituição,
a sardinha, importada, portuguesa, pescada nos mares frios que lhe
conferem boa gordura (a tão celebrada ômega 3) e suculência incomuns, é o
abre-alas. Servida sobre torradas (R$ 6) pode vir sobre um molho de
coentros e alhos macerados em azeite ou numa versão ligeiramente mais
perfumada com outros cítricos. Pode ainda ser convertida em prato
principal (R$ 29), na companhia de batatas ao murro temperadas:
elementar e marcante. Uma taça de vinho branco ou cerveja rigorosamente
gelada e estamos na entre-sala do céu.
O cardápio é enxuto, basilar e, ainda
assim, não fica apenas no óbvio. Aqui, por exemplo, podemos encontrar a
receita alentejana de galinha ao molho vadio. A ave cozida, desfiada e
marinada em molho avinagrado de alho e limão (R$ 29): fria, refrescante e
muito aromática, de deixar saudade no paladar. Eis o grande trunfo da
casa: tratar seus ingredientes, sempre os mais nobres disponíveis, como
as instituições que são. O polvo a lagareiro, por exemplo, é pura
autoindulgência: cozido até a maciez e depois, assado com alho, louro e
azeite num resultado aromático ao ponto de provocar salivação na
vizinhança. O bacalhau também a lagareiro (R$ 65) faz jus à fama de
instituição do ingrediente: alto, o legítimo gadus mohua, cuja gordura
entremeada faz as postas se desfazerem em lascas ao menor toque do
garfo. Além de batatas, vem sobre uma cama de espinafres refogados
irrecusável. Na versão a Braz (R$ 49), o pescado é suculentamente
desfiado ao forno. É possível ainda eleger guarnições afetivamente lusas
como o arroz de tomate.
Das entradas, o camarão a piri-piri é
puro deleite para os amantes de pimenta (como eu): os crustáceos
grandes, rosados, íntegros, marinhos, imersos num azeite sensualmente
picante. Espontaneamente elegante, o Sardinha chega, enfim, com cara de
polivalente: faz feliz quem por lá passeia, e coroa seu dia com um
almoço, ou refaz as alegrias de quem ali trabalha. De quebra, deixa o
Recife Antigo deliciosamente mais ibérico.
Rua da Moeda, de segunda à sábado, das 11h às 16h30. Tel.: 3224-7854.
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