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Nasci no Recife, capital de Pernambuco, um dos 26 Estados do Brasil. Sou jornalista diplomada, amante da vida e de tudo que é positivo, verdadeiro e autêntico. Deixei as águas do Capibaribe, o mais famoso rio que banha o Recife. Atravessei o Oceano Atlântico e desaguei no rio Tejo, que acalenta Lisboa. E para aproximar esses dois lugares tão distantes mas com fortes ligações históricas e culturais, dei início a construção desta "ponte" Pernambuco-Portugal.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Recife Antigo ibérico no Sardinha

A pernambucana Adriana Didier e português Joaquim Gonçalves estão à frente do novo restaurante

Publicado em 28/06/2013 - Jornal do Commercio
Bruno Albertim
bruno.albertim@gmail.com

Sardinha importada é servida sobre torradas com molho de coentros e alhos macerados em azeite ou numa versão ligeiramente mais perfumada com outros cítricos  Foto: Felipe Ribeiro / JC Imagem

Há casas que mal surgem, nos são logo a impressão de terem existido desde sempre. Com pouco mais de uma semana de funcionamento, o Sardinha, num cenográfico (e lindo) casarão de pé direito alto atravessando três pavimentos, já funciona como cantinho precioso do Recife Antigo. Ali, a cozinha portuguesa exibe aromas e predicativos agregando um valor mais que subliminar ao casco velho da cidade. Fazia falta na geografia do bairro.

A cozinha, como o nome sugere, é portuguesa. Uma cozinha lusa potencializada pela difícil equação entre elegância e simplicidade, desejada por tantos, concretizada por muito poucos. Uma fórmula, aliás, que é marca da proprietária Adriana Didier, a mulher por trás da grife Beijupirá que, aqui, conta com a precisa parceria do marido e sócio, o português Joaquim Gonçalves.

O peixinho que dá nome ao estabelecimento tem ali sua devida reverência. Tratada como instituição, a sardinha, importada, portuguesa, pescada nos mares frios que lhe conferem boa gordura (a tão celebrada ômega 3) e suculência incomuns, é o abre-alas. Servida sobre torradas (R$ 6) pode vir sobre um molho de coentros e alhos macerados em azeite ou numa versão ligeiramente mais perfumada com outros cítricos. Pode ainda ser convertida em prato principal (R$ 29), na companhia de batatas ao murro temperadas: elementar e marcante. Uma taça de vinho branco ou cerveja rigorosamente gelada e estamos na entre-sala do céu.

O cardápio é enxuto, basilar e, ainda assim, não fica apenas no óbvio. Aqui, por exemplo, podemos encontrar a receita alentejana de galinha ao molho vadio. A ave cozida, desfiada e marinada em molho avinagrado de alho e limão (R$ 29): fria, refrescante e muito aromática, de deixar saudade no paladar. Eis o grande trunfo da casa: tratar seus ingredientes, sempre os mais nobres disponíveis, como as instituições que são. O polvo a lagareiro, por exemplo, é pura autoindulgência: cozido até a maciez e depois, assado com alho, louro e azeite num resultado aromático ao ponto de provocar salivação na vizinhança. O bacalhau também a lagareiro (R$ 65) faz jus à fama de instituição do ingrediente: alto, o legítimo gadus mohua, cuja gordura entremeada faz as postas se desfazerem em lascas ao menor toque do garfo. Além de batatas, vem sobre uma cama de espinafres refogados irrecusável. Na versão a Braz (R$ 49), o pescado é suculentamente desfiado ao forno. É possível ainda eleger guarnições afetivamente lusas como o arroz de tomate.

Das entradas, o camarão a piri-piri é puro deleite para os amantes de pimenta (como eu): os crustáceos grandes, rosados, íntegros, marinhos, imersos num azeite sensualmente picante. Espontaneamente elegante, o Sardinha chega, enfim, com cara de polivalente: faz feliz quem por lá passeia, e coroa seu dia com um almoço, ou refaz as alegrias de quem ali trabalha. De quebra, deixa o Recife Antigo deliciosamente mais ibérico.

Rua da Moeda, de segunda à sábado, das 11h às 16h30. Tel.: 3224-7854.

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