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Nasci no Recife, capital de Pernambuco, um dos 26 Estados do Brasil. Sou jornalista diplomada, amante da vida e de tudo que é positivo, verdadeiro e autêntico. Deixei as águas do Capibaribe, o mais famoso rio que banha o Recife. Atravessei o Oceano Atlântico e desaguei no rio Tejo, que acalenta Lisboa. E para aproximar esses dois lugares tão distantes mas com fortes ligações históricas e culturais, dei início a construção desta "ponte" Pernambuco-Portugal.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Praça D. Pedro IV, mais conhecida por Rossio – Lisboa



Por Maria do Céu Carvalho Dias*

Rossio é o antigo nome desta Praça, reconstruída após o Terramoto de 1755. Delimita a norte a Baixa Pombalina (zona mandada reconstruir pelo Marquês de Pombal depois de 1755). Apresenta prédios pombalinos dos lados Oeste e Leste; do lado Norte fica o Teatro Nacional D. Maria II, construído na 1ª metade do século XIX e do lado sul abrem-se ruas que levam ao Terreiro do Paço (Praça do Comércio) e ao Rio Tejo. Ainda do lado norte vislumbra-se a Estação Ferroviária do Rossio em estilo neo-manuelino que faz a ligação à Praça dos Restauradores (1). O pavimento da Praça foi uma das primeiras experiências em calçada portuguesa, com motivos ondulantes pretos e brancos. Era o coração de Lisboa desde há séculos e aqui se realizaram touradas, festivais, paradas militares e até autos-de-fé durante a vigência da Inquisição. Hoje é uma zona de lojas, cafés e restaurantes, vendedores de castanhas e de flores, para além de local de comícios de partidos políticos. Que agradável é estar no Inverno no café Nicola, por onde passou no século XVIII o poeta Bocage, ou no Verão na esplanada da pastelaria Suíça a lanchar e a saborear uma duchesse, bolo imperdível. É também neste espaço que foram colocadas duas fontes monumentais que em dias de calor refrescam o ambiente.

Ora é no meio desta Praça que desde 1870 se ergue numa coluna de vinte e oito metros de altura, a estátua do Rei D. Pedro IV (o 1º Imperador do Brasil). Na base desta coluna existem esculturas femininas - alegorias à Justiça, Sabedoria, Força e Moderação - qualidades que a História atribui a D. Pedro. Vale a pena transmitir-vos uma lenda criada à volta desta estátua, segundo a qual a figura representada seria o imperador Maximiliano do México fuzilado em 1867 e depois reaproveitada para o Rossio. Todavia os especialistas, como José Augusto França, negam tais ideias, porque a peça apresenta características de uma figura nacional: os escudos nos botões, o colar da Torre e Espada e a Carta Constitucional, outorgada por D. Pedro IV a Portugal em 1826, quando abdica em sua filha D. Maria da Glória, futura D. Maria II.

Mas quem é mesmo este D. Pedro IV, Rei português por meia dúzia de dias e Imperador do Brasil por meia dúzia de anos?
Nasceu no Palácio de Queluz (Lisboa) em 1798 e apenas com 9 anos foi com o pai D. João (Regente do Reino e futuro D. João VI), a Mãe D. Carlota Joaquina, a Avó D. Maria I (Rainha demente), o irmão D. Miguel e grande parte da corte portuguesa para o Brasil, aquando da 1ª invasão francesa. Se a infância em Portugal foi difícil e instável devido aos problemas político-económicos, no Brasil teve uma adolescência muito livre e cheia de compromissos para os quais talvez não estivesse preparado. Morreu tuberculoso aos 36 anos, também no Palácio de Queluz, depois de uma vida cheia, com dois tronos, dois casamentos e vários filhos legítimos e ilegítimos.



É o papel político desta personalidade que, ou empurrado ou motor dos acontecimentos, nos interessa. Em 1820 o cenário era complexo, pois rebenta a Revolução Liberal Portuguesa e a Corte é obrigada a abandonar a colónia brasileira que durante anos funcionou realmente como Reino. Em Portugal as Cortes Constituintes vão ser muito rígidas e pouco “liberais” para com o Brasil que de novo passa a colónia. D. João VI antes de regressar a Portugal nomeara D. Pedro regente do Brasil e este vai desobedecer à ordem de regresso a Portugal imposta pelas Constituintes, manifestando em 26 de Julho de 1822, numa carta a seu pai D. João VI que “ É um impossível físico e moral Portugal governar o Brasil, ou o Brasil ser governado de Portugal. Não sou rebelde… são as circunstâncias”. De facto do Rio a Lisboa eram 70 dias e o Brasil tinha-se desenvolvido tanto com a presença da Corte que em 7 de Setembro de 1822, D. Pedro declara o chamado grito do Ipiranga: “ É tempo! Independência ou morte! Estamos separados de Portugal”. É nesse ano proclamado, sagrado e coroado Imperador. É um período difícil, com muita oposição do lado português que só em 1825 aceita a independência da colónia, mas também do lado brasileiro que nem sempre acredita na sua preparação para governar e fazer da grande ex-colónia portuguesa um país.

A situação complica-se, quando em 1826 morre em Portugal o Rei D. João VI sem herdeiros declarados e presentes, pois se D. Pedro estava no Brasil, D. Miguel encontrava-se exilado na Áustria devido às suas manifestações absolutistas e antiliberais. Em Portugal D. Pedro não era bem aceite, porque tinha renegado Portugal ao tornar-se Imperador e no Brasil a oposição era forte por várias razões: a vida privada; o comportamento político que balançava entre os interesses portugueses e os brasileiros; a guerra demorada com a Argentina; a instabilidade política e o autoritarismo de D. Pedro I. Quando a Regência portuguesa lhe comunica a morte do Pai, ele considera-se Rei, outorga (dá) uma Carta Constitucional aos Portugueses, mas rapidamente abdica em sua filha D. Maria da Glória, de 7 anos, com a condição dela casar com o tio D. Miguel que será regente do reino até à sua maioridade. Logo que este regressa do exílio as peripécias são tantas que originam uma Guerra Civil, entre absolutistas e liberais e depois entre facções liberais, que só termina em meados do século XIX. É em 1831 que D. Pedro resolve vir para Portugal, abdicando, agora, de Imperador do Brasil no seu filho Pedro de 6 anos, Pedro II, para defender o trono português de sua filha. Do Brasil viajam até aos Açores e depois ao Porto e é a partir daqui que, durante três anos, se desenrolam momentos terríveis desta guerra entre dois irmãos que defendem ideologias diferentes. A vitória estará do lado de D. Pedro que, como já disse, não vai ter tempo de a saborear, pois morre pouco tempo depois. Nesta época o Porto vai receber o título de “cidade invicta” e D. Pedro decide legar o seu coração a esta cidade. (2)
Quando estiver em Portugal não deixe de observar e “viver” o Rossio, também denominado Praça D. Pedro IV.

Fontes – (1) Ver neste blogue “Praça dos Restauradores”. (2) Ver neste blogue “ Uma lição de portuguesismo”
Dicionário Ilustrado da História de Portugal. Gomes, Laurentino, 1822. História da Arte em Portugal, volume X. Boletim Lisboa e urbanismo. http://www.guiadacidade.pt/portugal. revelarlx.cm-lisboa.pt

* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa

5 comentários:

  1. Muito bom!!!
    Lúcia Ramos

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  2. Já aguardo ansioso pelo próximo texto. Vou ver se acerto: Praça de Camões, onde está o consulado brasileiro. Parabéns!

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  3. Estava com saudade da professora Céu. Muito bom aprender História com textos bem escritos e claros. Ana Paula Rego

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  4. Sou português e vivo em Venezuela. Gostava de sugerir que a senhora professora escrevesse sobre cantar as Janeiras.Muitos não conhecem essa tradição portuguesa.
    José Nunes

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  5. Nossa o Café Nicola realmente é o melhor, no entanto comer uma sardinha assada no Lirio, que fica ali do lado da Ginginha, e depois tomar a própria Ginginha e dar uma passeio por essa praça, ai que saudades de Lisboa.

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