Por Maria do Céu Carvalho Dias*
Belém (1) é uma das zonas mais emblemáticas da cidade, que vamos começar a visitar. Qual é a relação deste pedaço lisboeta com o Brasil? É que de Belém partiram caravelas e naus para o Mundo, entre elas a armada de Vasco da Gama ou a de Pedro Álvares Cabral que chegou ao Brasil. (2) Lisboa tem uma extensa zona banhada pelo estuário do Tejo, conhecida por zona ribeirinha. É sobre parte desta região - a ocidental - que hoje nos debruçaremos, mais precisamente sobre a freguesia de Santa Maria de Belém. Quando surgiu este nome? Foi o rei D. Manuel que no século XVI mandou construir uma nova Igreja (já havia ali uma edificada no século XV por ordem de o Infante D. Henrique) com a invocação de Santa Maria de Belém, talvez para lembrar a adoração do Menino Jesus pelos Reis Magos e assim reforçar o carácter régio da edificação. Antes, esta região que ficava “longe” de Lisboa, era habitada por alguns camponeses e pescadores e visitada por marinheiros que ali aportavam, onde entretanto surgiu uma povoação denominada Restelo; no entanto havia ligações com Lisboa, por mar e por terra, sendo mesmo construída uma ponte em Alcântara (3). A partir dos Descobrimentos a população aumenta, surgem conventos e quintas de rendimento e até de lazer, entrando no perímetro da cidade desde o século XVII. É a segunda metade do século XVIII que vai fazer de Belém e Ajuda (4), a nordeste de Belém, o eixo político, económico e militar de Lisboa. Porquê? Para além do desenvolvimento natural da região, o terrível Terramoto de 1755 atingiu pouco a parte ocidental de Lisboa, onde casualmente a Corte se encontrava naquele dia 1 de Novembro. Aqui ficou, melhor, na Ajuda ficou, a viver na denominada “Real Barraca” que embora de madeira e pano, interiormente vem a ser um verdadeiro palácio, onde o rei D. José quis continuar até à morte, com medo de nova catástrofe. À imitação da Corte, muitos sobreviventes do terramoto também montaram barracas daquele lado da cidade. Contudo só em 1833 é instituída a freguesia de Santa Maria de Belém, que cresce muito, quer devido a fábricas ali localizadas, quer a vias e meios de comunicação como o eléctrico que ainda hoje é um dos meios de transporte a servir Belém, uma das zonas de Lisboa de maior interesse patrimonial e artístico.
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Museu da ElectricidadeComecemos então pelo Museu de Electricidade, localizado na Avenida de Brasília, onde na 1ª metade do século XX funcionou a Central Tejo ou Central termoeléctrica – abastecedora de electricidade. É de arquitectura industrial do ferro com revestimento em tijolo. Para além da beleza do edifício e da sua proximidade com o rio Tejo, podemos observar não só o passado de funcionamento e trabalho da central, bem com apreciar várias exposições temporárias e outros eventos. Ainda no âmbito da arte industrial, é possível visitar o edifício da Fábrica Nacional de Cordoaria, fundada no reinado de D. José (século XVIII) para o fabrico de cordame.
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Museu dos Coches
Avançando, deparamo-nos com a Praça Afonso de Albuquerque, constituída por um jardim no centro do qual está a estátua de Afonso de Albuquerque, segundo vice-rei da Índia (século XVI), denominado “o Grande, o Marte português, o César do Oriente, o Leão dos Mares, conquistador de importantes cidades da Ásia, Goa, Malaca e Ormuz, que permitiram estabelecer a base política e económica do Império Português do Oriente. Do lado oposto ao Rio vemos o Palácio Nacional de Belém, residência oficial do Presidente da República portuguesa. Esta construção assenta num terreno e edificação do tempo do Rei D. João V, o governante que mais usufruiu do ouro do Brasil. “É um conjunto arquitectónico e paisagístico onde avulta um edifício central de cinco corpos com frente para o rio Tejo”. O Palácio pode ser visitado, bem como os seus jardins, não esquecendo os antigos viveiros de pássaros e cascata, agora restaurados, embora já da época de D. Maria I. Inclui ainda o Museu da Presidência da República com um acervo representativo dos passados dezassete presidentes. No antigo Picadeiro Real do Palácio está instalado o Museu dos Coches que vale a pena visitar, porque se encontra ali reunida a beleza e o luxo dos meios de transporte dos séculos XVII, XVIII e XIX. Também não precisa de ir a Londres ou a Atenas para ver, no 3º domingo de cada mês pelas 11horas, um Render da Guarda imponente, realizado pela guarda de honra do Palácio Nacional de Belém, a cargo do Esquadrão Presidencial do Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional Republicana. Agora observemos casas antigas, ainda da velha Belém e detenhamo-nos num pequeno espaço à nossa direita – o Beco do Chão Salgado – local onde existiu, e nesta época foi arrasado, queimado e salgado, o Palácio do Duque de Aveiro, que, em 1758, com outras famílias nobres foi incriminado pelo Marquês de Pombal por crime de lesa-majestade contra D. José. Todavia nesta tentativa de assassinato o Rei somente ficou ferido, quando vinha de uma visita nocturna à amante, “a marquesinha”, da poderosa família dos Távoras. O Marquês de Pombal, instrumento do despotismo régio, aproveitou para iniciar a política de nivelamento social, mandando prender membros das mais importantes e poderosas famílias aristocráticas, como conspiradores. Vários nobres foram torturados e executados publicamente, precisamente na zona de Belém e as suas cinzas deitadas ao rio Tejo. Este beco tem um pilar de pedra que é a memória do acontecido e a prova deste período pombalino em que os fins justificam os meios.
Deixo-vos, para mais tarde fruirmos a Praça do Império que é uma mescla da época da Descobertas com o século XX de Salazar e do pós 25 de Abril.
Fontes: 1) No mapa das freguesias de Lisboa é 13. 2) Ver neste blogue Avenida Álvares Cabral. 3) No mapa é 11. 4) No mapa é 12. 5) Ver neste blogue Praça D. Pedro IV. História da Arte em Portugal. Palácio de Belém - Página oficial da Presidência da República Portuguesa. http://www.jf-belem.pt
Veja neste blog os outros episódios da série Praças e Ruas de Lisboa:
- Praça D. Pedro IV:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/01/praca-d-pedro-iv-mais-conhecida-por.html
- O Chiado:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/01/o-chiado-lisboa.html
- Avenida Álvares Cabral
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/avenida-alvares-cabral-lisboa.html
- Praça Bernadino Machado:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/praca-bernardino-machado-lisboa.html
- As freguesias de Lisboa:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/as-freguesias-de-lisboa.html
* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa
Belém é o lugar mais expressivo de Lisboa. Gostei de tudo que vi lá. Professora, seus textos são o máximo!
ResponderExcluirFlávia Teles
Tem que reservar um dia para Belém. São muitos lugares e detalhes que não podem passar em branco.
ResponderExcluirParabéns pelas aulas virtuais, professora!
Carolina Resende