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Nasci no Recife, capital de Pernambuco, um dos 26 Estados do Brasil. Sou jornalista diplomada, amante da vida e de tudo que é positivo, verdadeiro e autêntico. Deixei as águas do Capibaribe, o mais famoso rio que banha o Recife. Atravessei o Oceano Atlântico e desaguei no rio Tejo, que acalenta Lisboa. E para aproximar esses dois lugares tão distantes mas com fortes ligações históricas e culturais, dei início a construção desta "ponte" Pernambuco-Portugal.

terça-feira, 8 de março de 2011

Belém - Lisboa. Do Museu da Electricidade até à Praça do Império

Palácio Nacional de Belém


Por Maria do Céu Carvalho Dias*


Belém (1) é uma das zonas mais emblemáticas da cidade, que vamos começar a visitar. Qual é a relação deste pedaço lisboeta com o Brasil? É que de Belém partiram caravelas e naus para o Mundo, entre elas a armada de Vasco da Gama ou a de Pedro Álvares Cabral que chegou ao Brasil. (2) Lisboa tem uma extensa zona banhada pelo estuário do Tejo, conhecida por zona ribeirinha. É sobre parte desta região - a ocidental - que hoje nos debruçaremos, mais precisamente sobre a freguesia de Santa Maria de Belém. Quando surgiu este nome? Foi o rei D. Manuel que no século XVI mandou construir uma nova Igreja (já havia ali uma edificada no século XV por ordem de o Infante D. Henrique) com a invocação de Santa Maria de Belém, talvez para lembrar a adoração do Menino Jesus pelos Reis Magos e assim reforçar o carácter régio da edificação. Antes, esta região que ficava “longe” de Lisboa, era habitada por alguns camponeses e pescadores e visitada por marinheiros que ali aportavam, onde entretanto surgiu uma povoação denominada Restelo; no entanto havia ligações com Lisboa, por mar e por terra, sendo mesmo construída uma ponte em Alcântara (3). A partir dos Descobrimentos a população aumenta, surgem conventos e quintas de rendimento e até de lazer, entrando no perímetro da cidade desde o século XVII. É a segunda metade do século XVIII que vai fazer de Belém e Ajuda (4), a nordeste de Belém, o eixo político, económico e militar de Lisboa. Porquê? Para além do desenvolvimento natural da região, o terrível Terramoto de 1755 atingiu pouco a parte ocidental de Lisboa, onde casualmente a Corte se encontrava naquele dia 1 de Novembro. Aqui ficou, melhor, na Ajuda ficou, a viver na denominada “Real Barraca” que embora de madeira e pano, interiormente vem a ser um verdadeiro palácio, onde o rei D. José quis continuar até à morte, com medo de nova catástrofe. À imitação da Corte, muitos sobreviventes do terramoto também montaram barracas daquele lado da cidade. Contudo só em 1833 é instituída a freguesia de Santa Maria de Belém, que cresce muito, quer devido a fábricas ali localizadas, quer a vias e meios de comunicação como o eléctrico que ainda hoje é um dos meios de transporte a servir Belém, uma das zonas de Lisboa de maior interesse patrimonial e artístico.

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Museu da Electricidade

É agora o momento de iniciarmos a visita desta parte da cidade, que pode ser intercalada com refeições ligeiras, ou não, em vários dos monumentos ou em restaurantes que por ali proliferam. Não esquecer a imprescindível entrada nos Pastéis de Belém, comidos ainda quentes e polvilhados de açúcar e canela – delícia e segredo dos anjos, ou mesmo dos deuses. Já agora vou-vos contar a história destes bolos: são uma receita dos monges do mosteiro dos Jerónimos (Santa Maria de Belém) que, para sobreviverem, resolveram criar uma loja onde puseram à venda os pastéis para o turista comer. Só que em 1834, a vitória dos liberais (5) levou a várias reformas, como a da expulsão das Ordens Religiosas. Perante esta situação, o frade pasteleiro vende a receita a um português regressado do Brasil. Os pastéis, que hoje saboreamos em uma pastelaria próxima do Palácio Nacional de Belém, são fabricados segundo a receita original por descendentes do português. Calculem que lá confeccionam e vendem diariamente vários milhares de Pastéis de Belém, parecidos, mas diferentes dos também apetitosos pastéis de nata.

Comecemos então pelo Museu de Electricidade, localizado na Avenida de Brasília, onde na 1ª metade do século XX funcionou a Central Tejo ou Central termoeléctrica – abastecedora de electricidade. É de arquitectura industrial do ferro com revestimento em tijolo. Para além da beleza do edifício e da sua proximidade com o rio Tejo, podemos observar não só o passado de funcionamento e trabalho da central, bem com apreciar várias exposições temporárias e outros eventos. Ainda no âmbito da arte industrial, é possível visitar o edifício da Fábrica Nacional de Cordoaria, fundada no reinado de D. José (século XVIII) para o fabrico de cordame.

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Museu dos Coches

Avançando, deparamo-nos com a Praça Afonso de Albuquerque, constituída por um jardim no centro do qual está a estátua de Afonso de Albuquerque, segundo vice-rei da Índia (século XVI), denominado “o Grande, o Marte português, o César do Oriente, o Leão dos Mares, conquistador de importantes cidades da Ásia, Goa, Malaca e Ormuz, que permitiram estabelecer a base política e económica do Império Português do Oriente. Do lado oposto ao Rio vemos o Palácio Nacional de Belém, residência oficial do Presidente da República portuguesa. Esta construção assenta num terreno e edificação do tempo do Rei D. João V, o governante que mais usufruiu do ouro do Brasil. “É um conjunto arquitectónico e paisagístico onde avulta um edifício central de cinco corpos com frente para o rio Tejo”. O Palácio pode ser visitado, bem como os seus jardins, não esquecendo os antigos viveiros de pássaros e cascata, agora restaurados, embora já da época de D. Maria I. Inclui ainda o Museu da Presidência da República com um acervo representativo dos passados dezassete presidentes. No antigo Picadeiro Real do Palácio está instalado o Museu dos Coches que vale a pena visitar, porque se encontra ali reunida a beleza e o luxo dos meios de transporte dos séculos XVII, XVIII e XIX. Também não precisa de ir a Londres ou a Atenas para ver, no 3º domingo de cada mês pelas 11horas, um Render da Guarda imponente, realizado pela guarda de honra do Palácio Nacional de Belém, a cargo do Esquadrão Presidencial do Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional Republicana. Agora observemos casas antigas, ainda da velha Belém e detenhamo-nos num pequeno espaço à nossa direita – o Beco do Chão Salgado – local onde existiu, e nesta época foi arrasado, queimado e salgado, o Palácio do Duque de Aveiro, que, em 1758, com outras famílias nobres foi incriminado pelo Marquês de Pombal por crime de lesa-majestade contra D. José. Todavia nesta tentativa de assassinato o Rei somente ficou ferido, quando vinha de uma visita nocturna à amante, “a marquesinha”, da poderosa família dos Távoras. O Marquês de Pombal, instrumento do despotismo régio, aproveitou para iniciar a política de nivelamento social, mandando prender membros das mais importantes e poderosas famílias aristocráticas, como conspiradores. Vários nobres foram torturados e executados publicamente, precisamente na zona de Belém e as suas cinzas deitadas ao rio Tejo. Este beco tem um pilar de pedra que é a memória do acontecido e a prova deste período pombalino em que os fins justificam os meios.

Deixo-vos, para mais tarde fruirmos a Praça do Império que é uma mescla da época da Descobertas com o século XX de Salazar e do pós 25 de Abril.

Fontes: 1) No mapa das freguesias de Lisboa é 13. 2) Ver neste blogue Avenida Álvares Cabral. 3) No mapa é 11. 4) No mapa é 12. 5) Ver neste blogue Praça D. Pedro IV. História da Arte em Portugal. Palácio de Belém - Página oficial da Presidência da República Portuguesa. http://www.jf-belem.pt


Veja neste blog os outros episódios da série Praças e Ruas de Lisboa:
- Praça D. Pedro IV:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/01/praca-d-pedro-iv-mais-conhecida-por.html
- O Chiado:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/01/o-chiado-lisboa.html
- Avenida Álvares Cabral
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/avenida-alvares-cabral-lisboa.html
- Praça Bernadino Machado:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/praca-bernardino-machado-lisboa.html
- As freguesias de Lisboa:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/as-freguesias-de-lisboa.html


* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa

2 comentários:

  1. Belém é o lugar mais expressivo de Lisboa. Gostei de tudo que vi lá. Professora, seus textos são o máximo!
    Flávia Teles

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  2. Tem que reservar um dia para Belém. São muitos lugares e detalhes que não podem passar em branco.
    Parabéns pelas aulas virtuais, professora!
    Carolina Resende

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