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Nasci no Recife, capital de Pernambuco, um dos 26 Estados do Brasil. Sou jornalista diplomada, amante da vida e de tudo que é positivo, verdadeiro e autêntico. Deixei as águas do Capibaribe, o mais famoso rio que banha o Recife. Atravessei o Oceano Atlântico e desaguei no rio Tejo, que acalenta Lisboa. E para aproximar esses dois lugares tão distantes mas com fortes ligações históricas e culturais, dei início a construção desta "ponte" Pernambuco-Portugal.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Rua Cecília Meireles – Lisboa




Por Maria do Céu Carvalho Dias*

A Rua Cecília Meireles fica na freguesia 18 do nosso mapa (1) e recebeu o nome em 1964. S. Domingos de Benfica é uma freguesia que foi desanexada de outras no século XX e que tem um património muito variado: palácios, como o dos Marqueses de Fronteira, o do Conde de Farrobo, o do Beau-Séjour; a Igreja de S. Domingos de Benfica; Chafarizes do século XVIII que recebiam água do Aqueduto e o Bairro Grandela construído no princípio do século XX para alojar as famílias dos empregados dos Armazéns Grandela, já desaparecidos.

Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Foi professora, poetisa, pintora, amante de música, sobretudo folclórica e jornalista. As suas raízes portuguesas, através da avó materna açoriana, que a educou, do avô paterno e do primeiro marido são de registar. Teve um 1º casamento com o artista plástico português Fernando Correia Dias do qual nasceram 3 filhas. Depois da morte do marido casou com o engenheiro Heitor Vinicius da Silveira Grilo. Começou muito cedo a escrever poesia, tendo publicado aos dezoito anos o seu primeiro livro – Espectro. A poesia de Cecília Meireles, embora modernista apresenta características específicas que a tornam atemporal. O seu interesse pela área educativa levou-a a fundar uma das primeiras bibliotecas infantis do Brasil, bem como a escrever poesia infantil, com uma musicalidade impressionante, como podemos sentir em O Cavalinho Branco: “ À tarde o cavalinho branco/ está muito cansado/ mas há um pedacinho do campo/ onde é sempre feriado/ O cavalo sacode a crina/ loura e comprida/ e nas verdes ervas atira/ sua branca vida/ Seu relincho estremece as raízes/ e ele ensina aos ventos/ a alegria de sentir livres seus movimentos/ Trabalhou todo o dia, tanto! / desde a madrugada! / Descansa entre as flores, cavalinho branco/ de crina dourada!”. Visitou muitos países da Europa e da Ásia e viveu nos Estados Unidos, onde ensinou Literatura luso-brasileira. Com o marido Fernando Correia Dias que estudara na Universidade de Coimbra, esteve algum tempo em Portugal (1934). Aqui fez conferências em Lisboa e Coimbra. Foi apresentada aos intelectuais e artistas da época, Almada Negreiros e Manuel Mendes, entre outros. Embora não tenha conhecido Fernando Pessoa foi-lhe oferecida a “Mensagem” autografada.

A propósito da origem açoriana dos antepassados de Cecília Meireles, decidi escrever umas linhas sobre o Arquipélago dos Açores e a emigração insular. Estas ilhas plantadas no Oceano Atlântico a umas duas horas de avião do continente europeu e no tempo dos Descobrimentos na rota das caravelas, começaram a ser colonizadas pelos portugueses, que as encontraram desertas, na 1ª metade do século XV. Todavia a emigração, que sempre foi um flagelo de Portugal, começou cedo, quando a quebra de produção de cereais, vinho ou pecuária era mais profunda. O século XVII, mas especialmente o XVIII foram períodos em que o Brasil era chamariz para o açoriano que desejava melhores condições de vida. O século XIX e parte do XX também levaram muitos ilhéus para o Brasil, desta vez mais para o Rio de Janeiro e S. Paulo. É curioso que sobretudo nos estados de Rio Grande do Sul e no de Santa Catarina a influência linguística seja considerável e segundo o licenciado açoriano Cristóvão de Aguiar “reflecte de maneira acentuada o contacto entre dois povos. Certas formas típicas do falar brasileiro como o emprego do gerúndio (estou comendo, estou dormindo), o t pronunciado th (quintha, ditho) e outras, não são mais do que a transposição para o Brasil do português insular. Em abono do que se acaba de afirmar, está o facto de que o emigrante açoriano, uma vez embarcado, muito raramente regressa, excluindo-se, portanto, a hipótese de uma influência de retornados luso-brasileiros sobre o português insular”. (2) Fiquei admirada com o que acabei de escrever, porque nunca tinha ouvido ou lido que houvesse influência linguística do açoriano sobre o brasileiro, mas a investigação é isto mesmo. Espero ter-vos conseguido transmitir que Cecília Meireles é uma grande mulher.

Fontes: 1) Ver neste blogue As freguesias de Lisboa. 2) Aguiar, Cristóvão de, Alguns dados sobre a Emigração Açoriana, Vértice. Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, Edição Século XXI. http://pt.wikipedia/ .

* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa

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