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Nasci no Recife, capital de Pernambuco, um dos 26 Estados do Brasil. Sou jornalista diplomada, amante da vida e de tudo que é positivo, verdadeiro e autêntico. Deixei as águas do Capibaribe, o mais famoso rio que banha o Recife. Atravessei o Oceano Atlântico e desaguei no rio Tejo, que acalenta Lisboa. E para aproximar esses dois lugares tão distantes mas com fortes ligações históricas e culturais, dei início a construção desta "ponte" Pernambuco-Portugal.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Nazaré, a minha terra

Santuário de Nossa Senhora da Nazaré

Por Maria do Céu Carvalho Dias
Fotografias: Miguel Nuno de Carvalho Dias

A praia da Nazaré fica no litoral oeste português, a pouco mais de uma hora a norte de Lisboa. Faz parte do distrito de Leiria e tem mais de 10000 habitantes. É uma povoação só com mais de dois séculos, havendo anteriormente o Sítio e a Pederneira (hoje somente um bairro ou lugar da Nazaré). A Pederneira, sede municipal até fins do século XIX, foi de primordial importância como porto de mar, pois forneceu durante séculos a Corte portuguesa sediada em Lisboa e outras regiões, com produtos marítimos e rurais dos Coutos (terrenos ou propriedades) do Mosteiro de Alcobaça (1).

Sob o ponto de vista paisagístico a Nazaré é imponente com o seu promontório (2), a encosta com um elevador de mais de 100 anos (3), a vila a espraiar-se ao longo do areal e até a visão, no horizonte, da Ilha da Berlenga, única reserva marinha do país. Muito próximo da linha de costa existe um canhão submarino (vale submarino) que é o maior da Europa e um dos maiores do Mundo. É neste lugar que se afundou a 20 de Maio de 1945, à vista de muitas pessoas, um submarino de guerra alemão. Por curiosidade vos direi que naquele dia chegaram a terra vários soldados alemães e que o submarino, ainda em 2004, continuava mudo e quedo no fundo do mar.

Os habitantes vivem essencialmente do mar e do turismo. Do mar, porque a pesca faz parte da sua vida, quer no vai-vem de botes e traineiras, quer na venda e até na seca de peixes pequenos nos chamados “paneiros”. Do turismo, no Verão a acolherem os veraneantes ou até os praticantes de surf e body-board e no Carnaval a organizarem divertimentos variados para os visitantes. Um aspecto interessante é a manutenção, cada vez mais rara, de algumas tradições como o uso de sete saias, avental e blusa pela mulher e ceroulas e camisa de escocês, barrete, cinta e capote pelo homem. A morte era vivida intensamente pelas gentes do mar e o luto prolongadíssimo. Outras questões importantes: a gastronomia à base de peixe e marisco e vários festejos, como os de Setembro, cujo ponto alto é a 8 de Setembro a Festa religiosa e profana de Nossa Senhora da Nazaré.
Imagem de Nossa Senhora da Nazaré

Vou partilhar convosco a origem lendária duma imagem da Virgem com o Menino e desta festa. Nos primeiros tempos do cristianismo, da Nazaré, na Galileia (Palestina), veio uma imagem de Nossa Senhora para o Mosteiro de Cauliniana ou Cauliana, próximo de Mérida, hoje Espanha, que se dizia ter sido esculpida por S. José na presença de Maria. A este convento chegou em 711, disfarçado, o rei visigótico Rodrigo, vencido pelos árabes, no sul da Península Ibérica. O perigo do invasor muçulmano obrigou-o a partir para Oeste com o abade do Mosteiro, levando a imagem da Virgem e relíquias de santos. Andaram, andaram até que avistaram mar e dois promontórios; separaram-se, ficando cada um em seu monte, levando o monge a imagem e as relíquias para uma gruta no promontório do Sítio, embora mantendo até à morte comunicação com o seu companheiro rei. Continuemos a contar a lenda: Mais tarde uns pastores encontraram na gruta a imagem e um pergaminho explicativo, passando Nossa Senhora a ser venerada. Em 1182, reinava D. Afonso Henriques e era alcaide-mor do castelo de Porto de Mós D. Fuas Roupinho. Ora é neste ano, que D. Fuas, numa manhã enevoada, se perdeu dos companheiros de caça perseguindo um veado e chegou mesmo, mesmo ao extremo do promontório do Sítio; como conhecia e venerava a imagem da gruta, pediu-lhe auxílio, o cavalo ficou suspenso só com as patas traseiras no chão e o veado caiu no mar. Diz a lenda que o veado era o demónio e que D. Fuas como forma de agradecimento, imediatamente mandou erigir uma capelinha no local onde estava a gruta com a imagem de Nossa Senhora da Nazaré (daí o topónimo Nazaré). Hoje podemos visitar no Sítio da Nazaré a Capela da Memória e o local onde, segundo a lenda, o cavalo pisou o bico do “Milagre” ou “Suberco”, no promontório.

Como o culto a Nossa Senhora da Nazaré se desenvolveu muito, o rei D. Fernando (filho de D. Pedro I), no século XIV, mandou construir no Sítio um Santuário para onde foi a imagem da Virgem. As romagens, denominadas Círios, deram ao culto uma projecção cada vez maior. Até os reis e a família real visitavam frequentemente o Sítio, onde mandaram edificar um Paço Real; os navegadores, como Vasco da Gama, vinham pedir a protecção da Virgem para as suas grandes viagens.

Muitas réplicas da imagem foram esculpidas e o culto mariano e nazareno espalhou-se pelo mundo. Como exemplo, provavelmente vosso conhecido, é a festa em Belém do Pará, Brasil, com o nome Círio da Nazaré.

No fim do século XVI o rei D. Sebastião mandou construir o forte de S. Miguel para a protecção da povoação, ainda não denominada Nazaré, contra a pirataria marítima. Já no século XIX as Invasões Francesas foram um flagelo para aquelas populações.

Termino referindo as razões que me levaram a escrever este texto: O pedido de alguns seguidores do blogue da Patrícia que não conhecem esta lindíssima terra e o prazer que me dá falar sobre a minha terra, a de muitos dos meus antepassados e a dos meus filhos. Visite a Nazaré, pois será um deleite para a alma e para o corpo.

Notas - (1) É neste Mosteiro que estão sepultados D. Pedro e D. Inês.
(2) Rever neste blogue uma fotografia da Nazaré, tirada no Sítio da Nazaré.
(3) Ver no blogue “O Mundo Apaixonante da Maximafilia” um postal do elevador.

Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa

14 comentários:

  1. Uma descrição muito interessante dessa terra tão linda. Sou português e moro há 12 anos no Brasil. Saudade da bela Nazaré.
    Fernando Costa

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  2. Professora,
    vou juntar uns "reais" e visitarei sua terra. Pelo o que a senhora escreveu terei que passar pelo menos uma semana aí.Há muito para conhecer na Nazaré.
    Parabéns pelo texto.

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  3. Professora Céu,

    Sua terra tem muita história para contar. Agora já sei porque a senhora resolveu ser historiadora. Trabalho com um amigo que conheceu a sua cidade. Ele disse que é mesmo bonita e bem diferente das outras praias portuguesas. Adorou a vista que se tem do elevador panorâmico.
    Parabéns,professora!
    Carlos Eduardo

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  4. Professora,

    Vi uma matéria no Glogo Repórter sobre Portugal que mostrou a Ilha de Berlenga. Adoro mar, natureza, ecologia...e agora história depois das suas aulas.
    Pati, seu blog é show!
    Maria Eulália

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  5. Professora

    sua terra foi muito bem apresentada. Parabéns!

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  6. Eu conheci Nazaré em 2006. É muito bonita. Há um calçadão que lembra os de algumas praias brasileiras. Vi muitos turistas franceses e espanhóis. Brasileiros, só a minha turma. Achei diferente os toldos na areia da praia. Só não consegui tomar banho de mar porque a água é muito fria. Agora entendo porque os portugueses gostam tanto das praias do nosso litoral.
    Parabéns!
    Janaína Pimentel

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  7. Parabéns à Patrícia pela iniciativa do excelente blogue e à Tia Céu por nos continuar a ensinar aspectos interessantes sobre a nossa Terra!

    Beijinhos a ambas com muitas Saudades!
    Ana Rita

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  8. Sou devota de Nsa. Sra. e tenha a imagem de Nsa. Sra. de Nazaré, trazida de Nazaré por minha mãe.È a única imagem de Maria amamentando o menino Jesus.Este lugar é mesmo magnífico.
    Parabéns pelo texto!

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  9. Parabéns Profª.

    Brederode, visitarei vc em breve, junto com a Joseane.

    CB.

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  10. François Mauriac, prémio Nobel da Literatura em 1950 escreveu na sua passagem pela Nazaré, o seguinte: “ A Nazaré parece-se com o seu nome, e o mar que a banha é um lago por onde Cristo passou. Este povo de pescadores, vestido de polícronos tecidos de lã, impele os seus barcos para as ondas, lança as suas redes, como sob a ordem de um mestre invisível. Eu não creio que se possa sofrer na Europa uma impressão de desnorteamento tão viva como a que se sente nesta vila queimada pelo sol. Entre este povo bíblico, encontrei-me fora do tempo. Há outras maravilhas em Portugal, mas a Nazaré é a minha mais estranha recordação “.
    fbarqueiro1@sapo.pt
    Fernando Barqueiro- Nazaré

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  11. Eu estive na Nazaré na minha lua de mel. Fui por indicação de um amigo francês que sempre passa o verão por lá. Gostei muito da cidade. Quem estiver sem tempo ou com pouco dinheiro, dá para ver os pontos turísticos em um dia. É que nós brasileiros estamos acostumados a dimensões continentais. Tudo no Brasil é longe, distante e enormee. Por isso qd programamos férias para o exterior pensamos que um dia nao dá para ver quase nada. Em Nazaré há muitos barzinhos e restaurantes, come-se muito na rua. Almocei em um chamado Ribamar. A comida é boa e os preços não custam os olhos da cara apesar do restaurante ser de luxo. Os garçons sao muito simpáticos. Ele fica na avenida beira-mar bem em frente ao calçadão da praia. O guia avisou que as turistas estrangeiras faziam toplesse na praia e por isso meu marido deu umas mil voltas no calçadão.rsrs Tb só vi franceses e espanhóis por lá. Gostei bem mais do que de Cascais e Estoril que se parecem com as praias urbanas do Brasil. Nazaré é mais típica.

    Katarina Simpson

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  12. Obrigada Maria do Céu, por me proporcionar a oportunidasde de conhecer a linda Nazaré, na companhia de sua mãe querida,seu irmão e cunhada e agora por me dar mais uma aula de história. Sua terra é linda e é outro recanto de Portugal que merece ser visitado com mais frequência e por mais dias por turistas de qualquer lugar do mundo.
    Saudades de Portugal, saudades de Nazaré, saudades de vocês.

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  13. No email que enviei à Patrícia Brederode solicitei-lhe mais espaço para os comentários. Pretendo enviar alguns textos importantes sobre a história da Nazaré mas devido ao seu tamanho não me foi possível, pelo menos o primeiro texto. Penso que não é possível enviar textos com mais de 4000 caracteres.
    Fico a aguardar a possibilidade de o fazer, seria importante para o conhecimento da Nazaré.
    Fernando Barqueiro- Nazaré
    fbarqueiro1@sapo.pt

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  14. Como é que se pode colocar uma fotografia ?
    Agradeço me informem.
    Fernando Barqueiro- Nazaré
    fbarqueiro1@sapo.pt

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