A editora

Minha foto
Nasci no Recife, capital de Pernambuco, um dos 26 Estados do Brasil. Sou jornalista diplomada, amante da vida e de tudo que é positivo, verdadeiro e autêntico. Deixei as águas do Capibaribe, o mais famoso rio que banha o Recife. Atravessei o Oceano Atlântico e desaguei no rio Tejo, que acalenta Lisboa. E para aproximar esses dois lugares tão distantes mas com fortes ligações históricas e culturais, dei início a construção desta "ponte" Pernambuco-Portugal.

sábado, 4 de junho de 2011

Rua Pedro Calmon – Lisboa


Pedro Calmon

Por Maria do Céu Carvalho Dias*

Esta rua fica na freguesia de Alcântara, número 11 do nosso mapa das Freguesias de Lisboa.(1) Pedro Calmon Muniz de Bittencourt nasceu em Amargosa, Baía**, Brasil em 1902 e morreu no Rio de Janeiro em 1985.
Alcântara é um topónimo que deriva do árabe al-qantara que quer dizer ponte. É que havia uma ribeira neste local e os seus habitantes sentiram necessidade de construir uma ponte para estabelecerem uma comunicação mais fácil entre estas terras e Lisboa. Terá sido de madeira, mas os romanos, que nos primeiros séculos depois de Cristo dominaram a Península Ibérica, construíram-na de pedra. É durante a dominação árabe que a ponte (al-qantara) dará o nome àquela zona. Como as terras de Alcântara eram férteis, passam a reguengos (terras do Rei) logo após a conquista de Lisboa (1147) aos árabes pelo Rei D. Afonso Henriques. Mais tarde, no século XIV, o rei de Castela João I, pelo Tratado de Salvaterra de Magos prometido em casamento a Dona Beatriz, filha do rei D. Fernando, invade Lisboa pela ribeira de Alcântara, atacando e devastando toda a região. Esta, precisamente devido à sua ribeira ligada ao rio Tejo, está aberta a invasores.

No século XVI, antes do domínio filipino (espanhol) ali se encontraram os exércitos de D. António, Prior do Crato e de Filipe II de Espanha. Eram ambos pretendentes ao trono português, depois de o Cardeal-Rei ter morrido em 1580, após ter sucedido ao trono em 1578, quando D. Sebastião morreu na batalha de Alcácer-Quibir. Foi um recontro desastroso para D. António e praticamente marcou o início dos sessenta anos de perda de independência de Portugal. No século XIX também as Invasões Francesas, as lutas liberais e epidemias foram destruindo a zona. Para que não vos conte só desgraças é importante lembrar que o Terramoto de 1755 não atingiu demasiado Alcântara e por isso parte dos lisboetas e a família real “fugiram” para aqui. (2) Ao longo destes séculos o seu património foi aumentando: um hospital, ermidas como a de Santo Amaro, conventos como o das Flamengas e do Monte Calvário, um Palácio Real, palácios, como o da Ribeira Grande, o dos Condes da Ponte, (hoje edifício da Administração do Porto de Lisboa) Sabugosa e até uma Tapada (espaço verde murado) onde a família real se deliciava a passear e a caçar coelhos, javalis e gazelas. Hoje, a Tapada da Ajuda tem um extraordinário património verde com razoável área cultivada gerida pelo Instituto Superior de Agronomia; um Observatório Astronómico de Lisboa, um Pavilhão de Exposições, campos de râguebi e um miradouro com uma panorâmica fabulosa sobre o rio Tejo. Apesar de todas as vicissitudes referidas atrás, Alcântara vai-se desenvolvendo também devido a factores económicos:
- Exploração de pomares e vinhas junto da ribeira;
- Extracção de pedra para cal e pedra de lioz das suas pedreiras;
- Fornos de cal;
- Fábricas de estamparia, de curtumes, de loiças, de tecidos (Companhia de Fiação de Tecidos Lisbonense), de sabão, de óleos, da Companhia União Fabril, dos chocolates Regina.

Os transportes públicos incrementaram também Alcântara. Este bairro de características proletárias e populares, onde proliferaram associações operárias, colectividades, como o Atlético Clube de Portugal, salas de teatro, viveu momentos complicados com os habitantes a participarem e dinamizarem muitas greves e revoluções.


Docas em Alcântara  /Fotografia: Turismo de Lisboa

Ao longo do século XX a paisagem da freguesia de Alcântara foi mudando, quer devido a melhoramentos ferroviários e rodoviários como a Avenida de Ceuta e sobretudo a Ponte 25 de Abril que, ao passar sobre Alcântara, desalojou muitos dos seus habitantes, quer devido ao reaproveitamento de fábricas abandonadas para bares e restaurantes junto do Rio Tejo, zona conhecida por Docas, local de diversão nocturna e até diurna. Se estiver em Lisboa passe um bocado nas Docas, que vai gostar.

Ainda nesta superfície marítima é imperdível a Gare Marítima de Alcântara, com os frescos gigantes de Almada Negreiros (artista do século XX) e também o Museu do Oriente instalado nos antigos armazéns da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau, que reúne colecções históricas, religiosas, antropológicas e artísticas do Oriente. É também nesta zona que o Porto de Lisboa criou estruturas para partidas e chegadas de grandes paquetes e terminais de passageiros. Quer passear no rio Tejo? É da doca de Alcântara que partem Cruzeiros de um dia.

O século XXI trouxe propostas de renovação para aquela zona ribeirinha, apresentadas em 2008, mas julgo que pouco têm avançado, não só porque receberam muitas críticas, mas também devido à crise económica e financeira vivida por Portugal.

Regressemos à toponímia brasileira em Lisboa, à Rua Pedro Calmon: escritor, historiador, professor de Direito, político. Publicou dezenas de obras e artigos em revistas; entre outras a “História Social do Brasil” e a “História do Brasil”.
Recebeu o título de Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Doutor honoris causa das Universidades do México, de Nova York, de Coimbra (Portugal) entre outras. Representou o Brasil em várias conferências internacionais. Foi membro e até presidente da Academia Brasileira de Letras; membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e sócio de mérito da Academia Portuguesa de História, bem como de outras sociedades culturais e históricas de Espanha e outros países latino-americanos. É um intelectual brasileiro do século XX, a não esquecer.

Fontes – 1) Ver neste blogue As Freguesias de Lisboa (12 de Fevereiro). 2) Ver Belém (8 de Março) neste blogue. Enciclopédia Verbo Luso-brasileira de Cultura. http://www.jf-alcantara.pt http://pt.wikipedia/  

Veja neste blog os outros episódios da série Praças e Ruas de Lisboa:
- Praça D. Pedro IV:
- O Chiado:
- Avenida Álvares Cabral
- Praça Bernadino Machado:
- As freguesias de Lisboa:
- Belém - Lisboa. Do Museu da Electricidade até à Praça do Império:
- Avenida Almirante Gago Coutinho e Avenida Sacadura Cabral :
- Rua Cecília Meirlles:
- Rua Alexandre de Gusmão:

* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa
** Forma portuguesa de escrever Bahia (Estado da região nordeste do Brasil)

Um comentário:

  1. Muito bom o post quando estava a estudar na Universidde de Lisboa sempre adorava passear pela bela Alcantara. Se não me engano o Museu de Arte Antiga também fica por lá. parabens.

    ResponderExcluir