Reprodução de uma pintura do artista Columbano |
Por Maria do Céu Carvalho Dias *
A rua Padre António Vieira, célebre pregador e escritor do século XVII, fica na freguesia de S. Sebastião da Pedreira, o número 16 do nosso mapa das freguesias de Lisboa (1). Esta existe desde o princípio do século XVII e está rodeada por freguesias, algumas das quais já referidas neste blogue, como a de Sagrado Coração de Jesus ou a de Campolide. Recebeu o nome duma Capela construída no cimo duma pedreira no século XVI, nos “Bons Ares”, no caminho de saída de Lisboa e foi dedicada a S. Sebastião protector das pessoas contra as pestes e epidemias que por vezes assolavam a cidade. Esta ermida foi substituída no século XVII pela actual Igreja Paroquial. Sempre foi uma freguesia muito extensa e aparecem referências antiquíssimas a lugares da freguesia: eram pouco povoados, mas tinham muitos vinhedos, olivais e pomares. Como já referi é uma freguesia enorme, que cresceu sobretudo depois do Terramoto de 1755, com várias praças, como a Praça de Espanha, centro viário importante, quer rodoviário, quer de metropolitano. Nas imediações da Praça de Espanha estão implantados dois teatros, a mesquita de Lisboa e um dos mais importantes hospitais da cidade, o Instituto Português de Oncologia (IPO). A dois passos desta praça fica também o Instituto Calouste Gulbenkian, com museus de arte antiga e moderna, e a grande galeria, “Corte Inglês”. Nesta freguesia está o Parque Eduardo VII de que já falámos noutra ocasião; a Maternidade Alfredo da Costa inaugurada em 1932, onde nasceram muitos lisboetas e ainda muitas crianças dos arredores da cidade; a Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, uma galeria de exposições representativa da pintura portuguesa do século XIX e XX. No sector habitacional é imprescindível lembrar nesta freguesia o luxuoso Hotel Ritz, o elegante (no século XX) Bairro Azul e muitas outras construções que devido à sua beleza receberam o prémio Valmor no princípio do século XX.
Dediquemo-nos agora ao Padre António Vieira e à sua ligação ao Brasil. Nasceu em Lisboa em 1608, no seio de uma família simples; a avó paterna era mestiça, talvez filha de escrava negra. Com seis anos foi com os pais para a Baía, onde estudou em colégio jesuíta e onde se entusiasmou pela vida religiosa. Interessado pela missionação junto de índios e negros estudou as suas línguas, enquanto se mantém no Colégio de Olinda a leccionar. Mais tarde vai missionar para a zona de Baía e também estudar Teologia. Em 1634 já Vieira é padre e pregador. Usará a palavra e a escrita a favor dos direitos dos índios e negros contra a corrupção e a exploração dos colonos e contra os Holandeses que tinham ocupado Pernambuco, donde serão expulsos em meados do século XVII.
Em 1640 o domínio filipino (de Espanha) acaba em Portugal, vindo o Padre António Vieira a Lisboa integrado numa missão de congratulação, adesão e vassalagem do Brasil ao rei D. João IV. Vai ficar na capital como conselheiro do Rei. A Igreja jesuítica de S. Roque, na Baixa lisboeta, enche-sede crentes que ouvem os seus sermões inflamados e nacionalistas contra a Espanha.
D. João IV encarrega-o de várias missões diplomáticas em cortes europeias, onde não foi muito bem sucedido. É ideia sua a constituição da Companhia do Comércio do Brasil (1649). Esta companhia fundada por D. João IV com os bens dos cristãos novos, que ficavam assim libertos das perseguições inquisitoriais, pôs a Inquisição contra Vieira e até contra o próprio Rei.
Entretanto vai mais uma dezena de anos para o Maranhão, no Brasil, onde mantém uma extraordinária actividade catequética junto dos índios, que lhe chamavam o Padre Grande, o que coloca os colonos contra si e contra os jesuítas, vendo-se obrigado a regressar a Lisboa. Continua a usar a oratória na luta e defesa das suas ideias. Só que o rei D. João IV morre em 1656 e o seu sebastianismo vai ser o motivo que o Tribunal da Inquisição usará para o prender. A pena imposta impedi-lo-á de poder pregar durante algum tempo; mas continuará a escrever e a usar da palavra em sermões inflamados, apesar de uma doença prolongada que entretanto o afecta. Ainda volta ao Brasil, onde organiza a edição da sua obra, representativa do combate duma vida, embora alguns do seus objectivos – protecção aos cristãos novos, profecias dum quinto Império – não se tenham realizado. Morre em 1697, perdurando os seus extraordinários sermões, quer pelo conteúdo, quer pela força e beleza de estilo.
Fontes:
– 1) Ver neste blogue “As freguesias de Lisboa”.
- Dicionário Ilustrado da História de Portugal. Dicionário de Literatura, dir. de Jacinto do Prado Coelho, 1989. http://www.jf-sspedreira.pt/
Veja neste blog os outros episódios da série Praças e Ruas de Lisboa:
- Praça D. Pedro IV:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/01/praca-d-pedro-iv-mais-conhecida-por.html
- O Chiado:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/01/o-chiado-lisboa.html
- Avenida Álvares Cabral
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/avenida-alvares-cabral-lisboa.html
- Praça Bernadino Machado:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/praca-bernardino-machado-lisboa.html
- As freguesias de Lisboa:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/as-freguesias-de-lisboa.html
- Belém - Lisboa. Do Museu da Electricidade até à Praça do Império:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/03/belem-lisboa-do-museu-da-electricidade.html
- Belém – Lisboa. A Praça do Império:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/03/belem-lisboa-praca-do-imperio.html
- Avenida Almirante Gago Coutinho e Avenida Sacadura Cabral :
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/04/avenida-almirante-gago-coutinho-e.html
- Rua Cecília Meirlles:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/04/rua-cecilia-meireles-lisboa.html
- Rua Alexandre de Gusmão:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/05/rua-alexandre-de-gusmao-lisboa.html
- Rua Pedro Calmon:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/06/rua-pedro-calmon-lisboa.html
- Travessa do Enviado da Inglaterra:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/06/rua-do-enviado-de-inglaterra-lisboa.html
- Praça do Marquês do Pombal:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/07/praca-do-marques-de-pombal-lisboa.html
* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa
A rua Padre António Vieira, célebre pregador e escritor do século XVII, fica na freguesia de S. Sebastião da Pedreira, o número 16 do nosso mapa das freguesias de Lisboa (1). Esta existe desde o princípio do século XVII e está rodeada por freguesias, algumas das quais já referidas neste blogue, como a de Sagrado Coração de Jesus ou a de Campolide. Recebeu o nome duma Capela construída no cimo duma pedreira no século XVI, nos “Bons Ares”, no caminho de saída de Lisboa e foi dedicada a S. Sebastião protector das pessoas contra as pestes e epidemias que por vezes assolavam a cidade. Esta ermida foi substituída no século XVII pela actual Igreja Paroquial. Sempre foi uma freguesia muito extensa e aparecem referências antiquíssimas a lugares da freguesia: eram pouco povoados, mas tinham muitos vinhedos, olivais e pomares. Como já referi é uma freguesia enorme, que cresceu sobretudo depois do Terramoto de 1755, com várias praças, como a Praça de Espanha, centro viário importante, quer rodoviário, quer de metropolitano. Nas imediações da Praça de Espanha estão implantados dois teatros, a mesquita de Lisboa e um dos mais importantes hospitais da cidade, o Instituto Português de Oncologia (IPO). A dois passos desta praça fica também o Instituto Calouste Gulbenkian, com museus de arte antiga e moderna, e a grande galeria, “Corte Inglês”. Nesta freguesia está o Parque Eduardo VII de que já falámos noutra ocasião; a Maternidade Alfredo da Costa inaugurada em 1932, onde nasceram muitos lisboetas e ainda muitas crianças dos arredores da cidade; a Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, uma galeria de exposições representativa da pintura portuguesa do século XIX e XX. No sector habitacional é imprescindível lembrar nesta freguesia o luxuoso Hotel Ritz, o elegante (no século XX) Bairro Azul e muitas outras construções que devido à sua beleza receberam o prémio Valmor no princípio do século XX.
Dediquemo-nos agora ao Padre António Vieira e à sua ligação ao Brasil. Nasceu em Lisboa em 1608, no seio de uma família simples; a avó paterna era mestiça, talvez filha de escrava negra. Com seis anos foi com os pais para a Baía, onde estudou em colégio jesuíta e onde se entusiasmou pela vida religiosa. Interessado pela missionação junto de índios e negros estudou as suas línguas, enquanto se mantém no Colégio de Olinda a leccionar. Mais tarde vai missionar para a zona de Baía e também estudar Teologia. Em 1634 já Vieira é padre e pregador. Usará a palavra e a escrita a favor dos direitos dos índios e negros contra a corrupção e a exploração dos colonos e contra os Holandeses que tinham ocupado Pernambuco, donde serão expulsos em meados do século XVII.
Em 1640 o domínio filipino (de Espanha) acaba em Portugal, vindo o Padre António Vieira a Lisboa integrado numa missão de congratulação, adesão e vassalagem do Brasil ao rei D. João IV. Vai ficar na capital como conselheiro do Rei. A Igreja jesuítica de S. Roque, na Baixa lisboeta, enche-sede crentes que ouvem os seus sermões inflamados e nacionalistas contra a Espanha.
D. João IV encarrega-o de várias missões diplomáticas em cortes europeias, onde não foi muito bem sucedido. É ideia sua a constituição da Companhia do Comércio do Brasil (1649). Esta companhia fundada por D. João IV com os bens dos cristãos novos, que ficavam assim libertos das perseguições inquisitoriais, pôs a Inquisição contra Vieira e até contra o próprio Rei.
Entretanto vai mais uma dezena de anos para o Maranhão, no Brasil, onde mantém uma extraordinária actividade catequética junto dos índios, que lhe chamavam o Padre Grande, o que coloca os colonos contra si e contra os jesuítas, vendo-se obrigado a regressar a Lisboa. Continua a usar a oratória na luta e defesa das suas ideias. Só que o rei D. João IV morre em 1656 e o seu sebastianismo vai ser o motivo que o Tribunal da Inquisição usará para o prender. A pena imposta impedi-lo-á de poder pregar durante algum tempo; mas continuará a escrever e a usar da palavra em sermões inflamados, apesar de uma doença prolongada que entretanto o afecta. Ainda volta ao Brasil, onde organiza a edição da sua obra, representativa do combate duma vida, embora alguns do seus objectivos – protecção aos cristãos novos, profecias dum quinto Império – não se tenham realizado. Morre em 1697, perdurando os seus extraordinários sermões, quer pelo conteúdo, quer pela força e beleza de estilo.
Fontes:
– 1) Ver neste blogue “As freguesias de Lisboa”.
- Dicionário Ilustrado da História de Portugal. Dicionário de Literatura, dir. de Jacinto do Prado Coelho, 1989. http://www.jf-sspedreira.pt/
Veja neste blog os outros episódios da série Praças e Ruas de Lisboa:
- Praça D. Pedro IV:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/01/praca-d-pedro-iv-mais-conhecida-por.html
- O Chiado:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/01/o-chiado-lisboa.html
- Avenida Álvares Cabral
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/avenida-alvares-cabral-lisboa.html
- Praça Bernadino Machado:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/praca-bernardino-machado-lisboa.html
- As freguesias de Lisboa:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/02/as-freguesias-de-lisboa.html
- Belém - Lisboa. Do Museu da Electricidade até à Praça do Império:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/03/belem-lisboa-do-museu-da-electricidade.html
- Belém – Lisboa. A Praça do Império:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/03/belem-lisboa-praca-do-imperio.html
- Avenida Almirante Gago Coutinho e Avenida Sacadura Cabral :
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/04/avenida-almirante-gago-coutinho-e.html
- Rua Cecília Meirlles:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/04/rua-cecilia-meireles-lisboa.html
- Rua Alexandre de Gusmão:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/05/rua-alexandre-de-gusmao-lisboa.html
- Rua Pedro Calmon:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/06/rua-pedro-calmon-lisboa.html
- Travessa do Enviado da Inglaterra:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/06/rua-do-enviado-de-inglaterra-lisboa.html
- Praça do Marquês do Pombal:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2011/07/praca-do-marques-de-pombal-lisboa.html
* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa
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