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Nasci no Recife, capital de Pernambuco, um dos 26 Estados do Brasil. Sou jornalista diplomada, amante da vida e de tudo que é positivo, verdadeiro e autêntico. Deixei as águas do Capibaribe, o mais famoso rio que banha o Recife. Atravessei o Oceano Atlântico e desaguei no rio Tejo, que acalenta Lisboa. E para aproximar esses dois lugares tão distantes mas com fortes ligações históricas e culturais, dei início a construção desta "ponte" Pernambuco-Portugal.

domingo, 21 de novembro de 2010

Os Árabes/os Muçulmanos – Hoje no Mundo e em Portugal

Mesquita

Por Maria do Céu Carvalho Dias*

À medida que fui pesquisando, achei que era bom saber mais deste povo que hoje continua espalhado pelo Mundo e com incontestável importância. Vou deixar a herança ou o legado árabe, para outro episódio, procurando agora trocar algumas ideias sobre a presença árabe no século XX no Mundo e em Portugal.

No Mundo: Desde o princípio do século XX que o nacionalismo árabe está a crescer. Assim, durante a Primeira Guerra Mundial os Britânicos aproveitam para incentivar os Árabes a lutarem contra o dominador turco. De facto encontramos a Arábia Saudita, a Síria, o Iraque e a Transjordânia (estados puramente árabes) como protectorados ingleses ou franceses durante vários anos. A História do século XX vê nascer novos estados árabes, como o Egipto, que vão lutar contra o domínio colonial e, claro, contra Israel. A união de tantos estados tem sido difícil, (será que o origem nómada deste povo dificulta?), mas o seu papel cresceu com o petróleo, já que o Próximo Oriente passou a primeiro produtor e a possuidor de mais de metade das reservas de petróleo actualmente (1998) conhecidas. Mais próximo de nós podemos ainda recordar as tristes Guerras do Golfo e todas as Guerras israelo-árabes e deixamos para outros a discussão sobre a divisão do mundo em civilização ocidental e civilização árabe.

A expansão do islamismo pelo mundo é visível na Ásia, em África, na América e na Europa e por isso escolhi três casos diversos: o da Guiné-Bissau, onde vivi algum tempo nos anos setenta do século XX, durante a Guerra Colonial; o do Brasil, porque li Jorge Amado que descreve personagens árabes, porque acompanhei algumas personagens interessantes em telenovelas e porque muitos de vós sois brasileiros; o de Portugal, o meu país.
Guiné-Bissau – Foi uma colónia portuguesa em África. Quase metade da população - as etnias ricas dos Mandingas e dos Fulas - é muçulmana. Esta religião chegara à África ocidental a partir do norte de África pela mão de comerciantes. Uma vez observei uma situação curiosa que passo a descrever: uma camioneta vinha do interior para Bissau e em determinado momento parou; porquê? Era hora de rezar e o Muçulmano desceu, estendeu uma esteira e voltado para a cidade de Meca (a oriente) orou e fez as suas abluções; em seguida enrolou a esteira, entrou e a camioneta prosseguiu viagem. Outra grande fatia, quase metade também, segue as religiões animistas. Fazendo as contas, neste país, o cristianismo é praticado por muito poucos.
Brasil – Sempre me interessou conhecer influências sobre culturas/civilizações, podendo ser a portuguesa ou outra, como a brasileira. Nesta os Índios, os Negros, os Portugueses, os Holandeses, os Franceses, os Espanhóis, os Italianos, os Alemães, os Japoneses e os Muçulmanos contribuíram mais, ou menos. Sabe-se que foi o Imperador Pedro II, na segunda metade do século XIX, que atraiu imigrantes árabes ao Brasil. As más condições sócio-económicas e políticas, estimularam, em grande escala, libaneses e sírios. A maior colónia está em S. Paulo, onde prosperaram como comerciantes, embora muitos outros se tenham espalhado pelo país como mascates.
A primeira leva era cristã e a miscigenação não foi difícil. O fim do século XX, devido às guerras no Médio Oriente, trouxe nova leva de libaneses, na sua maioria muçulmanos. Para concluir posso referir que a população árabe no Brasil é mais numerosa do que em qualquer outra parte do Mundo. Mas deixo isso para uma pesquisa mais profunda.
Portugal - A Comunidade Islâmica de Lisboa foi criada oficialmente em 1968 por estudantes de Moçambique (então colónia portuguesa), como associação religiosa e cultural. Tem umas 40000 pessoas vindas, sobretudo depois do 25 de Abril de 1974, de Moçambique, Guiné-Bissau e outras regiões, bem como os seus descendentes. Os muçulmanos em Portugal também cresceram devido às relações políticas e comerciais com a China e com a Índia. Existem em Portugal vários lugares de culto: a Mesquita do Laranjeiro (na margem sul do Tejo) inaugurada em 1982; a de Odivelas (junto de Lisboa) em 1983; a Mesquita de Lisboa inaugurada em 1985, que têm um papel, não só religioso, mas também social. Por todo o país há muitos outros locais de culto e convívio muçulmanos. Ainda antes da inauguração das mesquitas, em 1978, foi fundado o Centro Islâmico de Portugal. Como a alimentação muçulmana também apresenta características específicas, em 1992 foram criados os primeiros três talhos islâmicos na zona da Grande Lisboa. Pelo país fora foram aparecendo outras associações, como o Centro Cultural Islâmico do Porto, a Associação Luso-Turca e até colégios, como Colégio Islâmico de Palmela (nos arredores de Lisboa) cujos alunos são maioritariamente muçulmanos, mas está aberto a outros credos.
Até 1961 Goa, Damão e Diu na Índia eram colónias portuguesas e por isso resolvi lembrar a presença indiana na sociedade portuguesa: são cerca de 70000 e vieram para Portugal aquando da invasão de Goa pelo estado indiano (1961) e depois do 25 de Abril de 1974, pois muitos encontravam-se nas colónias portuguesas em África, que se tornam países independentes. Eram trabalhadores qualificados, fixaram-se nas zonas de Lisboa e Porto, mantêm a sua identidade sócio-religiosa, a maioria fala português, mas uma grande parte não é católica, mas muçulmana ou hindu.

Já que estou a escrever sobre os Árabes quero lembrar que terminou agora a Peregrinação a Meca de 2010. Esta religião obriga a que se vá ao lugar sagrado, Meca, uma vez na vida. São tantos os peregrinos, uns milhões, que muitas vezes há tragédias consideráveis e este ano já existe um metropolitano para facilitar a circulação dos crentes.

Próximo Episódio: Costumes ou tradições árabes

Fontes:
Dicionário de História Universal;
http://www.portugal-islamico.blogspot.com/
http://ec.europa.eu/delegations
http://pt.wikipedia.org/wiki/Imigra

Leia também o primeiro episódio da série sobre os Árabes em Portugal publicada pelo blog Do Capibaribe ao Tejo:
http://docapibaribeaotejo.blogspot.com/2010/11/os-arabes-origem-expansao-e-presenca-em.html

* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa

4 comentários:

  1. Profª Maria do Céu: rico texto. Parabéns!

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  2. Minha avó falava que comprava coisas aos mascates no Recife. Ela dizia que esperava ansiosa por eles para ver as novidades.Parabéns pelo texto e pelo blog!
    Amanda Vaz

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  3. Patrícia,
    gosto mmuito dos textos do blog e da seleção das notícias que você faz. Professora Céu, sou sua fã!
    Camila Perez

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  4. Ótimo! Também gosto do seu blog. Só que me parece que há muito que não está activo. Entretanto passaram anos e o Islão vem mostrando cada dia que passa, cada vez mais, as suas verdadeiras intenções. Talvez seja melhor que paremos a sua evolução e desta vez é desejavel que sejamos ainda mais eficazes que nos séculos passados.

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