Olhares diferenciados sobre Portugal

Por Naide Paiva de Oliveira Nóbrega

Todos os lugares são diferentes uns dos outros e é a busca pelo diferente que move pessoas de seus “habitats” e entorno para aqueles lugares que lhes ofereçam novos conhecimentos, através da história e da cultura refletida na culinária, costumes, artes e lazeres peculiares de cada povoado, cidade ou país.

Assim como as pessoas, que ao serem apresentadas às outras não se fazem conhecer além do que é superficialmente mostrado, um olhar menos aguçado e curioso pode deixar passar despercebido o verdadeiro valor de um lugar.

Assim tem acontecido com muitos brasileiros que conhecem Lisboa quando de passagem para outros países europeus, pois sabemos ser a linda capital de Portugal uma importante porta de entrada para a Europa, assim como a cidade do Recife em Pernambuco é uma porta de entrada para o Brasil para muitos portugueses. È injusto, imerecido mesmo, conhecer Lisboa apenas de passagem, reservar uns poucos dias para tanta história, tanta beleza, cultura e lazer.

Posso dizer isto por experiência própria, já que em 2004 estive em Lisboa, quando de passagem para outros países da Europa, onde durante três meses perambulei com minha filha. Na época, além da cidade de Seixal, onde nos hospedamos na casa de nossa amiga Roberta, conhecemos ligeiramente Cascais e Sintra e claro, os pontos turísticos de Lisboa. O que mais ficou gravado daquela viagem na minha lembrança e na minha alma foi uma noite de fado no bairro de Alfama, quando realizei um dos três maiores sonhos de minha vida, que pensava viver ao lado do meu amado e saudoso marido Benjamim, tomar um bom vinho ouvindo fado numa adega em Alfama. Emoção só comparável a ver a neve caindo.

Sempre fui amante da música portuguesa e, diga-se de passagem, apesar de não saber cantar, acalentei minhas três filhas ao som de fados, fosse em rede, em cadeira de balanço ou simplesmente nos braços, mas sempre cantando fados, como Lisboa Antiga, Foi Deus, Olhos Castanhos, Mouraria e outros. Nostalgias familiares à parte, voltemos à minha primeira vez em Portugal.

Foi linda a primeira imagem que tive de Lisboa, mas o modo como olhei aquela linda cidade, não foi com um olhar mais curioso, mais detalhista, que me fizesse penetrar na essência do seu povo, perceber nas pedras de seus monumentos a leitura da história, não só de Portugal como de países por ele colonizados, como o nosso Brasil.

Eu estava começando uma viagem por sete países e ainda via Portugal, representado por Lisboa, apenas como porta de entrada para a Europa. E esta atitude se repete em contra partida, quando diz respeito à cidade do Recife, vista por alguns como ponto inicial de um roteiro para outras cidades e outros estados brasileiros.

Voltei a Lisboa em 2007 a convite dos amigos Rui e Patrícia (autora deste blog), época em que cursava Bacharelado em Turismo aos 64 anos de idade. Cheia de vontade de conhecer mais um pouco de Portugal e agradecida a Deus pela chance de fazê-lo pude lançar sobre tudo um olhar diferenciado, de curiosidade, de admiração e mesmo de aprendizado.

Fui privilegiada em ter como cicerone algumas vezes, a historiadora Maria do Céu Carvalho Dias, que me apresentou à cidade de Évora, onde conheci o templo de Diana e entre as suas muralhas tive uma verdadeira aula de história, além de Sesimbra, Cabo de Espichel e outros tantos lugares lindos. Com o casal Joaquim e Deolinda e Alda, matriarca da família Morais, conheci a linda Nazaré, Alfeizerão, onde comi o melhor pão de ló de minha vida e outras cidades vizinhas.

A visita à Fátima, já havia sido feita na primeira viagem, mas foi repetida, pois, uma filha tem que visitar a mãe todas as vezes que for possível. Não poderia deixar de falar em Covilhã, onde me maravilhei com um concerto de orquestras e cantos orfeônicos ao ar livre na praça principal da cidade, quando aconteceu um fato impressionante. Ao ser apresentado no palco o fado Lisboa antiga, pensei o quanto Benjamin gostaria de estar ali e ao virar-me, lá estava um carro chegando com seu nome escrito, pensem a emoção... Também conheci a Serra da Estrela, que no inverno deve ser um espetáculo à parte.

Estando hospedada no bairro Parque das Nações, a um passo da “Gare Oriente” de onde partem metrôs, ônibus e trens para diversos pontos da cidade e demais destinos europeus, era só colocar a mochila nas costas e sair explorando as possibilidades que Portugal me oferecia, como ir sozinha conhecer a maravilhosa cidade do Porto.

Brasileiros amigos, temos que ir a Portugal, uma, duas, muitas vezes se possível, porque como falei anteriormente, nas pedras dos inúmeros castelos e monumentos podemos ler a história, como em Belmonte, cidade onde nasceu Pedro Álvares Cabral, e conhecermos melhor a Capital do país.

E vocês portugueses venham conhecer o Recife, das praias de água mornas, dos casarios coloniais, das igrejas históricas, dos museus dos Brennand, das ruas recortadas por rios e lindas pontes que nos dão o título de “Veneza Brasileira”. Venham conhecer o estado de Pernambuco que é multicultural e experimentar nossa culinária gostosa como a risada do nosso povo e quente como o calor humano que lhes espera.

Aos amigos lusos e brasileiros fica a urgência de olhar as duas cidades, não como passagens nas rotas turísticas dos dois países e sim como destinos turísticos ricos em atrativos próprios e merecedores de uma visita mais prolongada.

Vamos nos conhecer melhor, vamos usar esta ponte de amizade do Capibaribe ao Tejo.

Naide Paiva de Oliveira Nóbrega é turismóloga formada pela Faculdade Maurício de Nassau