Hotel Palácio Estoril - Um dos preferidos dos espiões britânicos
*Por Maria do Céu Carvalho Dias
Hoje viajamos até acontecimentos pouco conhecidos ou até esquecidos do Portugal do século XX.
A Segunda Guerra Mundial inicia-se a 1 de Setembro de 1939, colocando frente a frente as ditaduras do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e os países Aliados (Inglaterra, França, URSS, Brasil, etc.).
Segundo o historiador César de Oliveira “ Portugal apressou-se a declarar, logo a 3 de Setembro de 1939, a sua neutralidade face à eclosão da Segunda Guerra Mundial a 1 do mesmo mês. A neutralidade portuguesa foi invocada sob os princípios da Aliança Luso-Britânica”, velha de 600 anos.
Os portugueses, que entretanto se vão dividindo em anglófilos e germanófilos, estavam contentes com a declaração que o governante, ditador Dr. Oliveira Salazar, tinha feito. A neutralidade pretendia-se equidistante, mas a partir de determinado momento foi muito mais colaborante. Também a Espanha de outro ditador, o General Franco, declarar-se-á neutra devido ao esforço diplomático de Portugal. O próprio Salazar, que pouco saiu de Portugal, vai encontrar-se com Franco para o pressionar à neutralidade.
Portugal, de facto, não participou na guerra, mas a guerra veio a Portugal, ou seja estendeu as suas asas até este cantinho do ocidente europeu. É a situação geográfica, a aliança luso-britânica e a simpatia pelo regime nazi, que vão determinar os factos da 2ª Guerra (1939-45) em Portugal. Vamos referir alguns:
- A manutenção de relações económicas com países beligerantes de campos opostos. Embora os britânicos tenham decretado um bloqueio a Portugal e Espanha para impedirem os contactos com a Alemanha, Salazar ao abrigo da neutralidade, mantém relações comerciais por mar e por terra com o país de Hitler, para lhe fazer chegar roupas de Inverno, conservas e sobretudo o volfrâmio, necessário para o armamento. Estes negócios, muitos deles clandestinos, quer com os Aliados, quer com a Alemanha, possibilitaram o enriquecimento de alguns portugueses. No entanto a questão económico-financeira e social agrava-se - há escassez e racionamento de géneros, fome, inflação a disparar, desemprego, baixa de salários, revoltas sociais e corrupção. Os diplomatas britânicos diziam que “Portugal parecia um Homem com os bolsos cheios e o estômago vazio”.
- O perigo de invasão germânica ou espanhola obriga a que se ensaiem exercícios militares de defesa em Lisboa e pelo país fora. A Austrália e o Japão invadem Timor, colónia portuguesa na Ásia. Tropas portuguesas são enviadas para os Açores, a fim de protegerem as ilhas. Uma base aérea açoriana é negociada, inicialmente com os ingleses, mas ficando depois, e até hoje, para os americanos. O espaço aéreo português é violado e houve combates junto da costa, de tal modo que caíram aviões em Portugal e há soldados alemães e ingleses sepultados em território português. Chegou a ser colocada a hipótese de o governo português se fixar em Angola ou Moçambique (à semelhança da ida da corte portuguesa para o Brasil, aquando das Invasões Francesas)
- Muitas crianças estrangeiras, que perderam a família, são recebidas em lares portugueses: umas ficaram para sempre, outras regressaram aos seus países.
- Milhares de refugiados judeus aqui vieram parar. Com visto do governo português, ou muitos com o visto do Cônsul português em Bordéus Aristides de Sousa Mendes, esperavam a oportunidade de embarcar para as Américas.
Hoje viajamos até acontecimentos pouco conhecidos ou até esquecidos do Portugal do século XX.
A Segunda Guerra Mundial inicia-se a 1 de Setembro de 1939, colocando frente a frente as ditaduras do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e os países Aliados (Inglaterra, França, URSS, Brasil, etc.).
Segundo o historiador César de Oliveira “ Portugal apressou-se a declarar, logo a 3 de Setembro de 1939, a sua neutralidade face à eclosão da Segunda Guerra Mundial a 1 do mesmo mês. A neutralidade portuguesa foi invocada sob os princípios da Aliança Luso-Britânica”, velha de 600 anos.
Os portugueses, que entretanto se vão dividindo em anglófilos e germanófilos, estavam contentes com a declaração que o governante, ditador Dr. Oliveira Salazar, tinha feito. A neutralidade pretendia-se equidistante, mas a partir de determinado momento foi muito mais colaborante. Também a Espanha de outro ditador, o General Franco, declarar-se-á neutra devido ao esforço diplomático de Portugal. O próprio Salazar, que pouco saiu de Portugal, vai encontrar-se com Franco para o pressionar à neutralidade.
Portugal, de facto, não participou na guerra, mas a guerra veio a Portugal, ou seja estendeu as suas asas até este cantinho do ocidente europeu. É a situação geográfica, a aliança luso-britânica e a simpatia pelo regime nazi, que vão determinar os factos da 2ª Guerra (1939-45) em Portugal. Vamos referir alguns:
- A manutenção de relações económicas com países beligerantes de campos opostos. Embora os britânicos tenham decretado um bloqueio a Portugal e Espanha para impedirem os contactos com a Alemanha, Salazar ao abrigo da neutralidade, mantém relações comerciais por mar e por terra com o país de Hitler, para lhe fazer chegar roupas de Inverno, conservas e sobretudo o volfrâmio, necessário para o armamento. Estes negócios, muitos deles clandestinos, quer com os Aliados, quer com a Alemanha, possibilitaram o enriquecimento de alguns portugueses. No entanto a questão económico-financeira e social agrava-se - há escassez e racionamento de géneros, fome, inflação a disparar, desemprego, baixa de salários, revoltas sociais e corrupção. Os diplomatas britânicos diziam que “Portugal parecia um Homem com os bolsos cheios e o estômago vazio”.
- O perigo de invasão germânica ou espanhola obriga a que se ensaiem exercícios militares de defesa em Lisboa e pelo país fora. A Austrália e o Japão invadem Timor, colónia portuguesa na Ásia. Tropas portuguesas são enviadas para os Açores, a fim de protegerem as ilhas. Uma base aérea açoriana é negociada, inicialmente com os ingleses, mas ficando depois, e até hoje, para os americanos. O espaço aéreo português é violado e houve combates junto da costa, de tal modo que caíram aviões em Portugal e há soldados alemães e ingleses sepultados em território português. Chegou a ser colocada a hipótese de o governo português se fixar em Angola ou Moçambique (à semelhança da ida da corte portuguesa para o Brasil, aquando das Invasões Francesas)
- Muitas crianças estrangeiras, que perderam a família, são recebidas em lares portugueses: umas ficaram para sempre, outras regressaram aos seus países.
- Milhares de refugiados judeus aqui vieram parar. Com visto do governo português, ou muitos com o visto do Cônsul português em Bordéus Aristides de Sousa Mendes, esperavam a oportunidade de embarcar para as Américas.
- A espionagem é outro assunto interessante e em estudo. Já procurámos transmitir que a situação geográfica possibilitava que Portugal fosse uma placa giratória económica, humana e até de informações. Na capital ouviam-se as mais variadas línguas (desde francês, inglês, russo, italiano, jugoslavo, alemão) e passeavam-se pessoas de muitos países, como espiões duplos ou não. Houve portugueses que também foram aliciados para esse caminho: como exemplos Gastão Ferraz, radiotelegrafista na frota bacalhoeira, ou o guarda do farol do Cabo de S. Vicente, no Algarve, ambos ao serviço alemão. Outro caso curioso foi a tentativa de rapto, pelo espião alemão Schellenberg, do germanófilo Duque de Windsor que, depois de abdicar do trono inglês, esteve em Portugal. Até a vida lisboeta desta altura inspirou filmes e livros, como “O Casino Royale” de autoria do agente secreto inglês Ian Fleming, que é o 1º da série “007”. Alguma legislação foi publicada contra a espionagem, mas os atingidos eram essencialmente alemães ou portugueses.
Não termino sem informar onde ficavam hospedados os agentes secretos, na opinião de norte-americanos, ingleses ou judeus alemães a viver em Portugal:
- Os alemães ficavam nos Hotéis Tivoli, Vitória, Suíço-Atlântico, Duas Nações, Avenida Palace, em Lisboa. E na Costa do Sol (Estoril e Cascais) no Hotel Atlântico, no Grande Hotel do Monte Estoril e no Hotel do Parque.
- Os britânicos alojavam-se nos Hotéis Aviz, Metrópole, em Lisboa e na Linha do Estoril no Grande Hotel da Itália, no Hotel Palácio e noutros.
Pensava que a neutralidade era isto?
Sabia que Portugal – este jardim à beira-mar plantado - tinha tido tanto movimento durante a 2ª Guerra Mundial?
Fontes: http://irenepimentel.blogspot.com
“Portugal Contemporâneo”, dir. António Reis; “Portugal e a II Guerra Mundial”, Visão História
* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa
Não termino sem informar onde ficavam hospedados os agentes secretos, na opinião de norte-americanos, ingleses ou judeus alemães a viver em Portugal:
- Os alemães ficavam nos Hotéis Tivoli, Vitória, Suíço-Atlântico, Duas Nações, Avenida Palace, em Lisboa. E na Costa do Sol (Estoril e Cascais) no Hotel Atlântico, no Grande Hotel do Monte Estoril e no Hotel do Parque.
- Os britânicos alojavam-se nos Hotéis Aviz, Metrópole, em Lisboa e na Linha do Estoril no Grande Hotel da Itália, no Hotel Palácio e noutros.
Pensava que a neutralidade era isto?
Sabia que Portugal – este jardim à beira-mar plantado - tinha tido tanto movimento durante a 2ª Guerra Mundial?
Fontes: http://irenepimentel.blogspot.com
“Portugal Contemporâneo”, dir. António Reis; “Portugal e a II Guerra Mundial”, Visão História
* Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa
Lisboa com seu encantos e mistérios... Achei muito interessante sua aula, professora, como todas as outras.
ResponderExcluirPatrícia, é muito complicado deixar comentário aqui.
Uma faceta de Lisboa que eu não conhecia. Por que se diz que Portugal é um jardim à beira-mar plantado? Alguma citação especial?
ResponderExcluirParabéns, ótimo artigo.
Edgar Pimentel
Professora
ResponderExcluirdaqui a pouco a senhora vai ter uma turma virtual rsrs. Amei o artigo sobre espionagem. Também não conhecia esse capítulo da história de Portugal
Professora, adoro sua praticidade para explicar as coisas.
ResponderExcluirParabénssssss!!!!
Professora
ResponderExcluirExiste alguma comunidade judaica que seja bem representativa em Portugal? Como a dos judeus que se instalaram no Recife ?
Esses agentes secretos de bobo nao tinham nada. Vejam so onde eles escolherem morar em Portugal: Cascais, Estoril.
Parabéns, professora!!!
Concordo com o comentário feito por Paula. A professora nos brinda neste blog, com verdadeiras aulas virtuais de história portuguesa.Obrigada e parabéns.
ResponderExcluirO BRASIL SÓ TEM 26 ESTADOS,E NÃO 27.
ResponderExcluir:)
Obrigada pela observação. O Brasil tem 26 Estados e um Distrito Federal.
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