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Nasci no Recife, capital de Pernambuco, um dos 26 Estados do Brasil. Sou jornalista diplomada, amante da vida e de tudo que é positivo, verdadeiro e autêntico. Deixei as águas do Capibaribe, o mais famoso rio que banha o Recife. Atravessei o Oceano Atlântico e desaguei no rio Tejo, que acalenta Lisboa. E para aproximar esses dois lugares tão distantes mas com fortes ligações históricas e culturais, dei início a construção desta "ponte" Pernambuco-Portugal.

sábado, 21 de agosto de 2010

Praça dos Restauradores

Fotografia: José I. Costa*

Por Maria do Céu Carvalho Dias

Existe em Lisboa um local denominado “Praça dos Restauradores” (antes designada “Passeio Público”). Tem no centro um obelisco erigido em 1886 com o objectivo de comemorar a restauração da independência de Portugal em 1640, após sessenta anos de domínio espanhol. O governo de Madrid não aceitou esta derrota e só em 1668 assinou com o Rei português, D. Afonso VI, um tratado de Paz. Antes, durante 28 anos, os portugueses defrontaram os espanhóis em Montijo, Castelo Rodrigo, Ameixial, Montes Claros e Linhas de Elvas.

Durante a governação filipina (espanhola) Portugal foi sendo atacado nas suas possessões coloniais pelos inimigos de Espanha, especialmente pelos holandeses através das Companhias Holandesa das Índias Orientais (VOC) e Holandesa das Índias Ocidentais (WIC). As ambições holandesas resultaram na perda de grande parte do Império português no Oriente. Noutras zonas de competição económica, como Angola ou Brasil, os Portugueses procuraram resolver a situação a seu favor. Mas até lá…

Vejamos, como exemplo, o caso brasileiro após a Restauração da independência:
- Em 1645 rebenta a Insurreição Pernambucana de luso-brasileiros descontentes com a Companhia das Índias Ocidentais (WIC). D. João IV envia apoio financeiro e soldados para a expulsão dos holandeses.
- Em 1648 e 1649 travam-se as Batalhas dos Guararapes, tendo saído vitoriosas as forças luso-brasileiras.
- Em 1654 é assinada a derrota holandesa no Brasil, Capitulação do Campo do Taborda, no Recife, donde saíram os últimos navios holandeses.
- Em 1661 é assinado o segundo Tratado de Paz de Haia (o 1º fora assinado em 1641): Portugal aceitou as perdas na Ásia, comprometendo-se a pagar oito milhões de florins, equivalente a sessenta e três toneladas de ouro, como compensação pelo reconhecimento da soberania portuguesa do Nordeste brasileiro, ex-Nova Holanda.

É todo este período histórico que o monumento da Praça dos Restauradores pretende lembrar. O obelisco foi projectado pelo professor António Tomás da Fonseca e a construção esteve a cargo Sérgio Augusto de Barros. Tem trinta metros de altura, quatro faces, duas figuras de bronze, uma representando a Vitória, foi executada por Simões de Almeida. A outra representa o génio da Liberdade e da Independência, foi executada por Alberto Nunes.

Apresenta variadas inscrições e datas dos feitos militares que pretende exaltar e recordar. Algumas legendas:
“Aos Restauradores de 1640 – 1º de Dezembro de 1640”
“EM 1886 POR SUBSCRIÇÃO NACIONAL ERIGIU A COMISSÃO CENTRAL DO PRIMEIRO DE DEZEMBRO DE 1640”
“26 DE MAIO DE 1644 – Sob o comando de Matias de Albuquerque, os portugueses entraram em Espanha …”
“27 DE JANEIRO DE 1654 – Os portugueses do Brasil pegam em armas para expulsar o usurpador holandês. Em 1644, Vidal Negreiros percorrendo o interior do território incita a população à revolta. Em 1645 o madeirense João Fernandes Vieira levanta em PERNAMBUCO o grito da revolta E SAI VITORIOSO EM TABOCAS.
Os holandeses acolhem-se então no Recife e sofrem durante nove anos os ataques dos patriotas locais. Estes, comandados por Francisco Barreto, saem vitoriosos nas duas batalhas de Guararapes. Em Janeiro de 1654 os holandeses evacuam em definitivo do Brasil”…

O monumento foi adjudicado em 1877 por vinte e cinco mil escudos e custeado por subscrição pública, aberta em Portugal e no Brasil.

Maria do Céu Carvalho Dias é formada em História pela Universidade Clássica de Lisboa

*Para ver outras fotografias de José I. Costa, acesse a galeria do autor no site Olhares: http://olhares.aeiou.pt/seinaoco

9 comentários:

  1. Carlos Bayma,
    Aproveito para registrar aqui que foi você quem conseguiu a permissão de José Costa para a publicação, no blog, da foto Praça dos Restauradores. Obrigada!!!

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  2. O texto está ótimo e a foto também. Dr. Carlos, acompanhei ontem, pela Rádio Jornal,o debate sobre infecções urinárias, que contou com a sua participação. Aprendi muita coisa. Parabéns!

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  3. Concordo com o Dr. Carlos Bayma sobre a postagem. Está esplêndida mesmo. A foto tem um colorido lindo. E o texto da nossa querida professora continua muito explicativo e claro.

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  4. Brilhante a publicação deste escrito realizado por quem muito sabe de história, um blogue que passou a figurar nos meus favoritos onde mora o bom gosto, a cultura e a amizade promovida entre portugueses e brasileiros a encurtar o espaço que separa Capibaribe do Tejo. Agradeço a importância que atribuíram à minha fotografia e galeria e também ao Dr. Carlos Bayma por me ter conduzido até este espaço.
    José Costa

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  5. Professora Céu, a senhora é o máximo!!!! Estou aprendendo muito com seus textos porque a senhora além de dominar o assunto, escreve de forma leve. Parabéns ao autor da bela foto. Uma tia minha já esteve em Lisboa e disse que a praça fica numa avenida famosa de Lisboa, a da Liberdade. Patrícia, quem me indicou seu blog foi Juliana que trabalhou com vc na TV Tribuna.
    Katarina ávila

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  6. Sou Portuguesa e retifico onde disse no inicio. Essa Praça sempre foi denominada de Praça dos Restauradores.O Passeio Público é atualmente a Avenida da Liberdade, que começa precisamente nessa Praça e que termina na rotunda do Marquês de Pombal.

    Maria

    Lisboa

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  7. No site revelarlx.cm_lisboa.pt diz-se: Valverde, zona onde se situava o Passeio Público ia do Teatro D. Maria II à Praça da Alegria.
    Segundo José Augusto França e outros autores refere-se: o Passeio Público foi projectado em 1764, construído em 1773-77, mas só embelezado no tempo de Fernando II. Em 1879 inicia-se a demolição do Passeio Público para a abertura da Avenida da Liberdade. " A câmara da capital cedeu o terreno que se situava no mesmo local onde outrora se erguia o início do Passeio Público para colocação do monumento dos Restauradores que foi inaugurado em 1886. Assim, pode-se concluir que a Praça dos Restauradores fica onde antes era o início do Passeio Público que a norte terminava na Praça da Alegria (sensivelmente metade da actual Avenida da Liberdade)

    Maria do Céu Carvalho Dias

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  8. "...oito milhões de florins, equivalente a sessenta e três toneladas de ouro, como compensação pelo reconhecimento da soberania portuguesa do Nordeste brasileiro, ex-Nova Holanda."
    Na verdade o Pernambuco não valeria tanto à época. Esse roubo, perdão "compensação", não foi (apenas) pelo facto mencionado mas acima de tudo para "pagar" o reconhecimento por parte da Holanda, da readequirida independência da coroa de Portugal em relação à coroa de Castela.

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